Quanto de imaginação e desejo compõe a memória de uma pessoa? A vida real de Castilho Hernandez oferece muitas respostas a esta pergunta. Como uma composição em caleidoscópio e profundamente sugestivo, este romance do escritor Sidney Rocha põe a nu a alma do seu cantor. E de todas as figuras que gravitam em torno dos fantasmas viventes da ilha que ele inventa, habita e é-e-não-é, hamletiano em essência e existência, em sua complexa urdidura. Tão expressionista quanto impressionista. E com tal intensidade que pode servir de espelho ao leitor cada um dos flashes dos prazeres e desditas, das verdades e ilusões desta história plena de poesia, em alguém que luta para proteger seu “coração invertido”. Impossível não sentir simpatia e empatia pelos personagens que, de tão autênticos, parecem nossos vizinhos, amigos próximos, gente conhecida, que mora conosco, ou cada um de nós. Romance sobre a solidão, a sinceridade e, principalmente, a liberdade de ser e agir. Nas suas ambiguidades e multiplicidades, o músico tem algo de Apolo-Dioniso e de Tirésias-Afrodite, ao partilhar suas epifanias, seus lampejos. Num misto de diário íntimo e autobiografia póstuma. Os românticos vão se identificar com o protagonista. Os realistas ecoarão as palavras do antagonista. De um jeito ou de outro, ninguém ficará indiferente às suas peripécias e verbalizações, tocadas muitas vezes de ironia, de cinismo, alguma doçura e uma pitada de gin e de angostura bitters.